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“BRASIL PRECISA DE UMA MUDANÇA RADICAL EM DIREÇÃO A BOA GOVERNANÇA PÚBLICA”, DIZ MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA



O ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, realizou a palestra de abertura do segundo dia de programação do II Congresso Nacional de Gestão Pública. O painelista se dedicou a fazer uma análise comparativa de dados relativos ao Brasil e países como Dinamarca, Estados Unidos, Chile e Paraguai para constatar se o país goza ou não de boa governança. Para o ministro, o Brasil conta com baixos índices de governança e baixos indicadores de controle de corrupção, assim como índices insuficientes de desenvolvimento humano, educação e renda per capita aquém do seu potencial.

A análise foi realizada observando dados computados pelo Banco Mundial, que traz seis indicadores de governança pública, dados das Organização das Nações Unidas (ONU), que realiza levantamentos relativos aos índices de desenvolvimento humano e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que administra o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

“O Brasil precisa de uma mudança radical em direção a boa governança pública. Faz-se indispensável que todos os agentes políticos, servidores, membros da Justiça assumam o compromisso efetivo, que nós assumamos e pratiquemos atos no sentido de preservar a relação de confiança que a sociedade depositou em cada um de nós. Precisamos adotar e executar políticas públicas eficazes, respeitar as leis, os contratos, as obrigações assumidas, a garantia do ideal da segurança pública, combater a corrupção, garantir a transparência, a liberdade de expressão, a participação social, na construção e monitoramento das políticas públicas”, alertou o ministro.

Integrante do quadro de professores do programa de Doutorado da Universidade de Salamanca, na Espanha, na área de Direito e Governança Global desde 2018, o ministro estuda há pelo menos 12 anos a temática.  E apresentou o estudo sobre a qualidade da governança do Brasil pela primeira vez durante o II Congresso Nacional de Gestão Pública, realizado pela Academia Brasileira de Formação e Pesquisa (ABFP), em Brasília.

O Banco Mundial compila dados desde o ano de 1996. E o Brasil atualmente está mais mal avaliado em todos os seis pilares do que no início da série histórica.

Esses pilares são voz e responsabilidade (percepção de até que ponto os cidadãos de um país podem participar na seleção de seu governo, bem como liberdade de expressão, liberdade de associação e mídia livre), Estabilidade Política (percepção da probabilidade de o governo ser desestabilizado ou derrubado por meios inconstitucionais ou violentos, incluindo violência e terrorismo com motivação política), Eficácia do governo (percepção da qualidade dos serviços públicos, a qualidade do serviço civil e o grau de sua independência das pressões políticas, a qualidade da formulação e implementação de políticas e a credibilidade do compromisso do governo com o governo), Qualidade Regulatória (percepção da capacidade do governo de formular e implementar políticas e regulamentos sólidos que permitam e promovam o desenvolvimento do setor privado), Estado de direito (percepção da medida em que os agentes confiam e respeitam as regras da sociedade e, em particular, a qualidade da execução de contratos, os direitos de propriedade, a polícia e os tribunais, bem como a probabilidade de crime e violência) e Controle da Corrupção.

“Não adiante focar na corrupção ou só na qualidade regulatória ou só na segurança. São problemas complexos que demandam soluções complexas. Quando melhoro em uma, melhoro em outra. Ainda que seja difícil estabelecer relação de causa efeito, o conjunto melhora o conjunto. A melhora de um impacta na melhora do outro, a piora de um impacta na piora de outro. Bons ou maus, indicadores de governança estão diretamente ligados.  Bons ou maus, nos indicadores da educação, IDH e renda per capita há também correlação”, avaliou o ministro.

André Mendonça destacou que a má governança causa impactos negativos na qualidade de serviços públicos essenciais, como saúde, educação, saneamento básico, além de prejudicar o bem-estar e a qualidade de vida da população. Isso também impacta no nível de investimentos que é realizado, uma vez que prejudica a confiança e restringe a garantia de direitos fundamentais principalmente aos mais pobres e corrói a democracia do país.

“Espero duas coisas com essa exposição mostrar onde estamos. O mundo não está tão azul. Os números nos dizem isso. Em segundo lugar, nos fazer conscientes de que a mudança não depende só de nós, mas passa por cada um de nós, nas suas esferas de atuação. Não será num passe de mágica. Os problemas são estruturais, mas é imprescindível o compromisso e engajamento efetivo para a melhoria dessa realidade. Espero que a partir desse aclaramento dos dados possamos repensar diariamente o nosso papel e a nossa responsabilidade”, desejou o ministro.

O II Congresso Nacional de Gestão Pública se pretende um espaço para debater medidas para avançar na eficiência e qualidade da administração pública.


Jornalistas: Mauro Camargo /Michele Figueiredo

 

 

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