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“TECNOLOGIA NO SERVIÇO PÚBLICO É INEXORÁVEL, NÃO VAI TER COMO GERIR SEM UTILIZAÇÃO”, DIZ ESPECIALISTA


A utilização da tecnologia na gestão pública é um caminho sem volta. É o que defende o especialista Vinícius Rangel, participante do painel Municipalismo na era digital, promovido pelo II Congresso Nacional de Gestão Pública, que ocorre em Brasília até o dia 10 de maio, no Royal Tulip. O evento é uma promoção da Academia Brasileira de Formação e Pesquisa (ABFP) e visa apontar caminhos para maior eficiência no serviço público.

“A esfera publica tem dados suficientes para tomada de decisão. Quando falamos nessa tomada de decisão, existe enorme responsabilidade nisso. Com dados há confiabilidade, toma decisão com base em evidência. Quanto mais sistema com ciência de dados, os gestores públicos serão privilegiados, além dos cidadãos”, explana.

Um exemplo disso é a cidade de Ananindeua, situada no Pará. O prefeito Daniel Barbosa Santos, que também participou do painel, fez um relato de caso do que mudou no município com a adoção do programa Ananin Digital. Desde que foram implementados os serviços digitais, a prefeitura já experimentou uma economia de R$ 8,5 milhões, de forma direta e indireta, nos últimos 12 meses.

“Isso permite que esse recurso seja investido na ponta, na melhoria da cidade. Os impactos não foram apenas financeiros, reduzimos absurdamente 1.164.114 documentos oficiais – mais de 6 milhões de impressões. Economizamos 676 árvores desde que se instalou o sistema”, disse o prefeito.

Ananindeua tem cerca de 600 mil habitantes e é o terceiro maior município do Pará. O prefeito conta que desde a digitalização dos processos, ocorrida em 2021, todos os órgãos utilizam o mesmo sistema, o que o permite tomar as decisões que forem necessárias com base em dados. “São mais de 200 serviços digitais, oferecidos 7 dias por semana, 24 horas por dia. Vai desde licenciamento de obra a iluminação pública”.

Santos exemplifica que desde que o serviço de reclamação de iluminação pública passou a ser feito de forma online, ele passou a ter condições de tomar decisões de forma mais acertada. “Determinado bairro tinha um número maior de troca de lâmpadas, então resolvi trocar as lâmpadas a vapor por LED. Atacamos os bairros que tinham mais problemas, Hoje 87% da cidade tem parque de iluminação de LED, houve redução do consumo de energia. O mesmo aconteceu com o programa Minha Casa, Minha Vida. Pude identificar onde estão as maiores demandas de carência de moradia dentro da cidade”.

Para o mediador do painel, o consulto legislativo do Senado, Rafael Câmara, Ananindeua demonstra na prática como a tecnologia pode melhorar a prestação de serviço e atender a população.

Vinícius Rangel acentua que a Internet das Coisas, ou IOT, tem um potencial que deve ser explorado pelos municípios na perspectiva de se tornarem cidades inteligentes.

“Existem inúmeras soluções inteligentes, cidades hoje usando sensores de detecção de movimento para acionar a iluminação pública. Liga na detecção de movimento. A economia é brutal se colocar ao longo de anos e os inúmeros municípios que temos. É uma questão relevante quando se fala em premência de deficiência energética, uso de energias renováveis. Faz muita diferença. IOT e digitalização da gestão pública são necessárias, caminho sem volta”.

“É preciso investir cada vez mais nas coisas que nos permitem tomar decisões rápidas. Os problemas são dinâmicos. Além da tomada de decisão, permitiu outro ganho. Hoje temos o prontuário eletrônico nos postos de saúde, a vida do paciente é toda preservada. Permitiu um sistema de marcação de consulta online. Ananindeua virou referência nacional de atenção básica. Temos nota máxima nas últimas quatro avaliações nacionais feitas, ficando em primeiro lugar. Estamos investindo em possibilitar que cada vez mais a gestão pública se assemelhe com o que trata no privado. O desafio é cada vez mais otimizar a tomada de decisão e ter a cidade mais próxima de nós”, diz o prefeito.

 

Mão de obra qualificada

Se o uso de tecnologia pela gestão pública se faz necessário e urgente para melhorar a eficiência do serviço prestado, há uma preocupação quanto ao apagão de mão de obra qualificada para lidar com essa realidade.

Conforme Rangel, a estimativa é que até 2025 o Brasil tenha um déficit de 520 mil profissionais de tecnologia. “A ciência de dados está cada vez mais necessária e existe uma projeção assustadora, profissionais especializados na ciência de dados são disputados de forma brutal no mercado demandante. Sofremos as consequências hoje”.

Até 2050 cada usuário do planeta utilizará 7 devices. Nesse ano, o mundo deve contar com 9,7 bilhões de pessoas. “Se fizermos a projeção usando essa base de dados e adotando a premissa por cidadão, teremos 7 devices, é assustador, um negócio relevante. Não é possível continuar no modelo se não pensarmos o conceito de IOT, inteligência artificial na gestão das cidades, questão inexorável. Mesmo que exista paradigma, somos assim, buscamos caminho confortável, a tecnologia no serviço público é inexorável, não vai ter como gerir sem utilização de tecnologia”.

O que ainda compromete a digitalização do serviço público, para Rangel, não são somente as questões legais, mas também formação de mão de obra, e segurança de dados. “É um desafio brutal. Guerras futuras serão cibernéticas. O grande desafio é a segurança, a mão de obra e os modelos criptográficos que nos protegem”.

Aponta que outro empecilho é o fato de a digitalização ocorrer por departamentos na gestão pública, ou seja, os sistemas não conversam entre si. “Não existe visão holística que abranja o todo. Vários sistemas para cada área que não conversam. Estamos num processo de digitalização, evoluímos muito, mas é preciso um aprimoramento da visão técnica. Se compartilhar mais e deixar de tratar problemas como departamento e olhar pelo prisma mais sistêmico, vai resolver muito mais coisas de forma mais célere. Ainda vamos chegar às cidades inteligentes, estamos engatinhando, começando a dar passos”, analisou.

Foi pensando nessa solução para as cidades, que Rangel desenvolveu a CIDIOS, uma rede social que concentra os problemas dos municípios por pastas. “É uma rede social com propósito específico. O cidadão loga com validação de CPF. Não existe de ter robô, perfil fake. A demanda vai direto para o vereador que quer endereçar. São duas tecnologias acopladas, filtro por temática e por localização. Sabe exatamente onde estão problemas e chamados. Mapeamento em tempo real. Estatística, mapa por reduto eleitoral. Cidade mapeada 100% em tempo real. Redução do tempo de resposta, governança maior de dados, decisão com base em evidência”.

A CIDIOS hoje está em utilização no município de São José dos Campos.

Rafael Câmara considera que o maior entrave para adotar a tecnologia é a “resistência da inteligência humana”. “Acredito que a resistência humana seja um enorme desafio.  Há um campo enorme se abrirmos a mente para adotar mais tecnologia, se cada gestor tiver essa mentalidade, podemos receber contribuições. A inteligência de um grupo não supera a rede de colaboradores. A tecnologia traz uma contribuição difusa para melhorar a produção de políticas públicas”.


Jornalista: Mauro Camargo /Michely Figueiredo

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