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TRIBUNAIS DE CONTAS TERÃO MISSÃO DE AUDITAR APLICAÇÕES DE IA, PONTUA MINISTRO



O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Weder de Oliveira, considera que com o avanço da utilização da inteligência artificial pela administração pública, os órgãos de controle ganharão uma nova competência: auditar a aplicação desses mecanismos. A consideração foi feita durante palestra ministrada no II Congresso Nacional de Gestão Pública, que ocorre em Brasília, no Royal Tulip Alvorada.

Oliveira externou preocupação com o viés que o algoritmo pode desenvolver, dependendo de como os elementos de dados são fornecidos ao sistema.

“O resultado pode sair com viés de gênero, raça e essa é uma grande preocupação. A segunda é com a privacidade dos dados que os sistemas utilizam. Nem as próprias pessoas que construíram o algoritmo sabem o que ele fez e como chegou ao resultado. Isso traz para o TCU e para os demais tribunais uma nova tarefa: auditar as próprias aplicações da inteligência artificial, verificar se tem elementos demais de risco, como foram construídas e se foram construídas com cuidados para amenizar os riscos que a tecnologia traz. Os tribunais também vão caminhar para compreender o processo de contratações, o ciclo da contratação e se ela foi elaborada para garantir a boa aplicação da inteligência artificial”.

É por essa razão que o país busca estruturar uma regulamentação, que segundo o ministro, é bastante complexa, uma vez que se for muito rígida pode criar obstáculos para o desenvolvimento do processo e se for muito flexível pode facilitar o desenvolvimento, mas sem nenhum tipo de salvaguarda.

O painel no qual o ministro expôs as considerações, intitulado “O Controle na Administração Pública na Era da Inteligência Artificial” foi mediado pelo conselheiro e presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal, Márcio Michel, que ponderou ser necessária uma preparação do corpo humano, uma vez que a inteligência artificial veio para ficar.

Se por um lado caberá aos tribunais de contas auditar as aplicações da inteligência artificial, eles também se valem do instrumento para a fiscalização de um governo que cada vez mais se digitaliza. Weder de Oliveira destaca que desde 2010, o Tribunal de Contas da União se vale de uma série de robôs que agilizam os processos dentro da instituição de controle, aprimorando o olhar para a fiscalização mediante varredura de vastos bancos de dados.

O ministro também reitera que a inteligência artificial potencializará o trabalho a ser desenvolvido pelos tribunais.

“Poderíamos dizer que os Tribunais de Contas primeiro observam o que acontece na administração e isso vai ser potencializada pela inteligência artificial. Fiscalizamos, avaliamos e em função dos resultados procuramos induzir critérios legais ao melhoramento e acompanhamento. A grande dificuldade do controle é saber o que merece a atenção do controle. Não se deve dedicar atenção a áreas menos relevantes. Essa é uma área que esses novos instrumentos vão nos ajudar, a achar o que merece atenção”, considerou.

A concentração de cerca de 100 bancos de dados por parte do Tribunal de Contas da União permitiu a realização de grandes auditorias, a escolha de objetos de fiscalização, a atuação conjunta. “Análise de dados faz parte cada vez mais da rotina das instituições de controle. Hoje o TCU começou a desenvolver o Chat TCU, que permitirá que auditores e ministros, quando estiverem com processos, possam varrer a base de dados para encontrar novas formas de compreensão e encaminhamento”. 

O ministro ponderou que o Brasil avança bem no governo digital, pela exigência da sociedade, mas que ainda existe um campo vasto a ser explorado para garantir mais agilidade ao cidadão. Considerou também que ao passo que o governo se digitaliza, requer que as instituições de controle desenvolvam uma estratégia digital de controle.

Conforme Oliveira, levantamento mostra que 27% dos órgãos federais tem previsão de utilizar tecnologia de inteligência artificial, 28% estão utilizando e 45% ainda não utilizam. É baixo ainda o índice de órgãos que já vivencia a transformação permitida pela utilização da inteligência artificial.

Os dificultadores da implantação são o baixo índice de colaboradores que conhecem a inteligência artificial, a falta de clareza para oportunidade de uso e a possibilidade de melhoria e a capacitação necessária. “A ambição de fazer com mais qualidade é que puxa a nova tecnologia. Quanto mais conhecimento tem, mais possibilidades são vistas. Há um novo movimento acontecendo, assim como foi com os smartphones e com os computadores de mesa”.

Weder de Oliveira apontou que o uso das novas tecnologias se dará de forma diferenciada no espaço territorial brasileiro, uma vez que o país vive uma assimetria, com regiões mais ricas e outras muito pobres. Por outro lado, a tecnologia vai permitir que o Poder Público seja mais efetivo na gestão da transferência de recursos, por exemplo.

“Temos que cuidar do básico e da inovação. Somos cobrados a inovar, mas falhamos no básico e ele precisa ser cuidado. Alguns municípios estão avançando mais em usar tecnologia, melhorar arrecadação, mas algumas áreas da administração pública ainda estão na era da qualidade total. Umas repartições estão no básico, enquanto outras avançam em tecnologia. Quanto mais o governo caminhar no sentido da digitalização, menor os custos da administração”.

O II Congresso Nacional de Gestão Pública é uma realização da Academia Brasileira de Formação e Pesquisa (ABFP). A terceira edição do Congresso já foi anunciada. Ocorrerá em Brasília, nos dias 4 e 5 de abril de 2025 e discutirá os novos desafios da gestão tributária e das políticas públicas.

O espaço de debate proporcionado pelo encontro visa identificar entraves e propor soluções para que o país caminhe rumo a uma gestão pública eficiente.


Jornalista: Mauro Camargo /Michely Figueiredo

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